quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

História de uns Amigos

1982
A menina de quinze anos penteava mais uma de suas bonecas loiras e caolhas. Girava no ar aquela que seria então uma de suas melhores amigas, brincava de contar segredos bobos nos ouvidos ocos e descascados pelo tempo, cantava canções de ninar para a serena boneca que mal entendia as mazelas do coração de sua dona. A mãe costurava as roupas dos bailes de carnaval, preparava a marmita do dia seguinte, olhava nos olhos da filha e desejava o mundo.
A menina que não conhecia o dia nem a noite. Buscava em cada cantinho mais uma história pra contar. Brilhava em vão, sonhava no chão. Tocava o tecido de seu mais novo vestido, sorria para a mesma boneca caolha encostada na guarda da cama. Imaginava as aulas de História, os problemas de Matemática, os erros de Português, a vírgula que esquecera de anotar naquela carta de amor.
O menino, já com vinte anos, jazia nas mãos das mulheres mais belas do bairro. Tocava e encantava com seu violão, plantava sua voz nos corações alheios.
Até a boneca já sabia.

1987
Uma mão tocou a outra, um anel dourado foi lançado à outra, cheio de promessas de uma vida que ninguém poderia imaginar. O público de 500 pessoas assistia apreensivo ao espetáculo de duas vidas se transformarem em uma apenas.

Hoje
A mesma boneca, agora sem cabelo, sem olhos, sem uma perna e sem um braço, conserva apenas seus ouvidos para a próxima alma cheia de sonhos e segredos de uma caminhada.

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