segunda-feira, 28 de maio de 2012

sábado, 26 de maio de 2012

A Desilusão e os Caquinhos de Mim

Tenho sonhado com meu pai todos os dias e, em todas as vezes, acordei pensando a mesma coisa: meu pai está vivo.
Até acordar totalmente, eu fico com isso na cabeça e a percepção da realidade demora muito a chegar.
Essa é a pior parte do meu dia. É como seu eu soubesse que meu pai morreu a cada novo dia.
Eu tenho tanta, mas tanta saudade.

A desilusão me pegou pelo pé, jogou-me bem alto, tirou-me o chão e pediu que eu continuasse a viver.
Agora só sobraram os caquinhos de alguém com muita saudade, pouca perspectiva e palavras vazias.


Meu coração nunca doeu tanto desde sua partida como dói agora.

domingo, 20 de maio de 2012

Mai suiti lóvi

Meu amor, de singelo toque de lavanda ao amanhecer, olhos murchos de noites mal dormidas. Possuo teus conselhos e ensinamentos escondidos em veias, memórias, sonhos distantes de uma época mais sorridente. Meu sublime amor, que de tão leve, levou o tempo num dos vagões desse trem, que ao esperar por dias melhores, não soube me dizer que o fim chegara. Cicatrizes de um amor morto na natureza mundana. Meu doce amor. Meu singelo toque de lavanda ao amanhecer, dorme com Deus.

C’est L’amour

Ao amor meu pouco entendimento. Aos amores meu invento. Aos amados meu sorriso. Aos amantes minhas lágrimas. Dou minhas lágrimas aos manifestantes da pouca importância. Constituo meu sorriso aos padrinhos do não me arrependo de nada. Mentira. Ainda te imagino passando a mão sobre minha cabeça, enquanto a câmera que você encara e são os olhos de outro, sai pela janela e vez ou outra a cortina cobre seus olhos para enganar quem não te conhece. Ainda ouço o sotaque francês que tão bem se adequavam aos seus lábios. Enxerga-te? Enxerga-me? C’est L’amour

terça-feira, 15 de maio de 2012

Onde foi que você se meteu?

Tem dias que eu não sinto meu coração. Tem dias que eu coloco a mão no peito e não sinto nem uma fisgadinha sequer. Teve dias que meu coração ameaçou sair pela boca, dias que a solidão me buscou para um passeio de mãos dadas e o coração agradeceu. Hoje tem dias que eu fujo do meu coração, da minha cabeça, da solidão. Queira ser um buquê de flores, por favor, quero te regar, te curar, te fazer sair pela boca como nos velhos tempos. Para, quem sabe, mais um passeio a sós pelo mundo.

Bom dia, eu!

É diferente a maneira que eu escrevo a partir de agora e ainda vou falar muito disso até tudo que restar for apenas saudade e belas lembranças. Segundo a lei natural das coisas, os filhos enterram seus pais, até tinha me acostumado com a ideia, mas não imaginava que fosse acontecer tão cedo. Na efervescência dos meus vinte e poucos anos, perdi meu pai. Acontece que não é fácil, independente da altura da vida que nós, filhos, possamos estar, mas dá uma pena e uma dor imensa no peito ver uma pessoa partir tão cedo. Enfim, não é disso que eu quero falar, não foi pra isso que resolvi desabafar, queria mesmo era contar do meu relacionamento com Deus. Após o último ano, em que eu questionei avidamente a existência de Deus, hoje eu posso dizer: EU ACREDITO EM DEUS. Não debato seus métodos de ensino, suas várias facetas conforme for sua religião, nem seu amor, seja ele punitivo ou bondoso. É Deus que está fazendo eu me levantar da cama, lavar o rosto, escovar os dentes e continuar a viver. É Deus e suas tantas promessas que me faz olhar para o céu e esboçar um sorriso em direção ao meu pai. Será Deus que lançará minhas mãos ao conforto se um dia ele quiser. Após uma semana da morte do meu pai, não questionei por um segundo a vontade de alguém de levá-lo de nós. Conhecendo meu pai do jeito que eu conhecia, tenho plena consciência do que teria sido melhor pra ele, continuar vivo principalmente no meu coração. Hoje, meu dia é triste, minha alegria é cinzenta e disfarçada. Não se passa um minuto sem que eu me lembre do meu pai, sem que eu deseje um segundo sem dor, sem que eu peça para as paredes pararem de tentar me esmagar em qualquer lugar que eu entre. Meu mundo é diferente, sem dúvida mais triste, mais calado, menos feliz. Bom dia, vazio novo eu. Bom dia, São João del Rei.

sábado, 28 de abril de 2012

pLANETA mERDA

Ai, meu amigo, quem disse que a vida seria fácil? Sério, não somos nós que a dificultamos, ela realmente te faz de gato e sapato, te mastiga e te cospe, te fura e te come. Tenho pensado tanto na vida nesses últimos dias. Parece até que eu nunca tinha pensado nela antes. Pensado no que importa, pelo que eu já chorei, por quantos motivos bestas eu me despedacei. Vida não é dinheiro, meu caro. Os mil reais que fazem falta no fim do mês, a dívida que te deixa louco dias a fio, a conta de luz atrasada, tudo isso é balela. Vida não é conforto. Moral ou físico. Vida não é minha vida. Conviva com o egoísmo dos outros ou com a desgraça dos seus e verá. Meu sentimento, hoje, não tem razão, não tem começo, meio, nem fim. Meus dias também são assim. Minhas horas não cabem em mim. Os minutos? Esses se apoderaram da esperança, da calma, da dor, dos raios de sol que não mais saíram em meio ao tempo nublado. Me vejo muito em Cathy, me sento no grande C. E nem sou eu que vou enfrentar a pior parte do sofrimento. Quem realmente me conhece sabe do meu lado forte para o drama. Quem realmente me conhece não sabe o que eu passo. Não me julguem sob os olhos do politicamente correto ou incorreto. Eu realmente precisava soltar essas palavras. Se eu estou crescendo, se as pessoas estão se amando mais, se os amigos estão me espiando de longe e orando por mais, eu não sei. O preço pode ser alto demais. Rezo pela força, rezo pela minha mãe, pelo meu pai, pela explosão do mundo, que anuncia um fim comum a tudo e a todos. Que esse meu egoísmo seja semente de um novo planeta Merda.

terça-feira, 27 de março de 2012

O Homem do Goethe

Ele come cascatas de camarão,
Ele toma Laurent-Perrier Grand Siecle La Cuvée,
Ele assiste Nouvelle Vague,
Ele canta Ella Fitzgerald.

Ele aluga os filmes mais procurados. Ele vê Natalie Wood deslizar pelo azul de seus olhos, vê Marilyn Monroe se abaixar de vergonha. Viaja pelas ilhas de areia fina e branca, fotografa tempestades naturais e combates de amor.

Ele escuta os Cd's que viraram lenda. Ele escuta a plural rouquidão de Amy Winehouse, escuta os passos perdidos de Ray Charles, tem jantares a luz de vela com Chico Buarque. Estuda o que lhe convém, lê o que acha no lixo, implica com céus que não estão coloridos o bastante.

Ele samba Tom Jobim,
Ele voa no coletivo,
Ele bebe água limpa,
Ele planta rosas brancas.
Ele tem amigos no Bronx, na Paulista, no Bosque, na Leite de Castro, no Bengo.
Ele é meu amigo e ele fuma Derby.
Ele é o Homem que todo homem quer ser.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Do Inferno

Que nó esse da minha garganta.
Puta que me pariu.
Cooperativismo, pra puta que te pariu.
Compreensão, pro diabo que te carregue.
Solidariedade, pro inferno!

(Ô Pai, pra que me deixar esperando?
Bah, tchê, era um dia importante. É um dia importante).

Que nó esse que amarraram na minha garganta
Pra puta que lhe pariu
Que vontade de não voltar nunca mais.

Pras profundezas do mar sem fim, eu e minha vontade.

domingo, 4 de março de 2012

Nem que fosse o último lugar da Terra

Ali se plantou os fantasmas de uma era feliz.
Espectros decolores, disfarçados de uma bela e admirável hipocrisia, a mesma que é responsável por prevenir a Terceira Grande Guerra.
Os sofás foram virados para a direção da porta, os quartos se encolheram para uma sala maior, a torneira da pia da cozinha segue pingando as lágrimas frias dos espíritos suspeitos.
A massa cinzenta se reúne, mirando o olhar na direção da porta. Esperam que entre mais um velho infantil para sugar toda a sua leveza, tirar-lhe os cabelos, enrolar-te a língua, fechar-te os poros.
Ali já não há mais coração.
Que venha a Guerra, que venham os espíritos.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Romance de Boliche

Eis as palavras que lhe dedico agora.

Quando os braços se livram e se deitam na parte porosa das costas, quando as mãos se desprendem e vos abrem mais um dia sem sol, sem paz. Quando o momento de partir é esperado e querido. São horas de pálido suor, cantigas de roda para adultos solitários, ladrilhos de pontos brilhantes e prateados.
Amigo, que lugar lhe prende? Que romance te espera? Quem é você?
São preciso três dedos, escolha a arma que mais te inspira. Tome distância. Corra como a garça foge do caçador, liberte teu coração e arremesse sua arma. Derrube os 12 pinos e ganhe o meu amor. Faça um romance de boliche.
Funda-me
Reduza-me
É disso que precisamos agora.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Como Estar

Das lápides que eu visitava em pensamento, algumas se tornaram apenas imagens manchadas.
Não lembro do rosto, do nome, da singularidade de cada sorriso, do tom exato de uma voz que insistia em sobressair sobre as outras, nem do tempero cru de um ou outro.

Ali, sentado no meio do vasto cemitério de amigos, incluindo cachorros, eu achei que tivesse visto você. Correndo no passeio precário e cinza, rolando na grama em falta, pulando de violoncelos para pianos, de pianos para flautas, me fazendo lhe adjetivar exageradamente como era de costume.
Mas, sabe, aquilo não existe mais. Talvez nunca tenha existido. Talvez seja insanidade minha, pensamento fértil demais, câmeras demais, olhares vampirescos em ascensão.

Se você se perguntar: Não estou bem, não estou mal.
Mas quem se preocupa?

Um beijo e uma carta em silêncio, só pra você e as lápides do teu coração.

Carnavalles



Não basta ter tudo o que se sonha,
Não adianta alcançar si bemóis ou fás com sétima sustenido maior, nem dançar piruetas escandalosas de maio ou setembro.
A dor ou a beleza de derrubar alguém é o que alimentará seu ego.

Tudo que padecia em seu estômago, pronto pra virar dejeto humano, volta como um míssil feroz e vacilante, esperando encontrar a cara do sujeito vil.
Tudo o que foi engolido, cada palavra, cada tino, cada pétala mastigada e roída, cada sêmen de discórdia, cada gota de ar engasgada...

Levar isso adiante não foi escolha minha, foi escolha do Carnaval, que me lembrou que cada folião é só mais um pierrot solitário, pulando pela alegria de outro, sonhando os sonhos de outro, alimentando o ego de outro.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

História de uns Amigos

1982
A menina de quinze anos penteava mais uma de suas bonecas loiras e caolhas. Girava no ar aquela que seria então uma de suas melhores amigas, brincava de contar segredos bobos nos ouvidos ocos e descascados pelo tempo, cantava canções de ninar para a serena boneca que mal entendia as mazelas do coração de sua dona. A mãe costurava as roupas dos bailes de carnaval, preparava a marmita do dia seguinte, olhava nos olhos da filha e desejava o mundo.
A menina que não conhecia o dia nem a noite. Buscava em cada cantinho mais uma história pra contar. Brilhava em vão, sonhava no chão. Tocava o tecido de seu mais novo vestido, sorria para a mesma boneca caolha encostada na guarda da cama. Imaginava as aulas de História, os problemas de Matemática, os erros de Português, a vírgula que esquecera de anotar naquela carta de amor.
O menino, já com vinte anos, jazia nas mãos das mulheres mais belas do bairro. Tocava e encantava com seu violão, plantava sua voz nos corações alheios.
Até a boneca já sabia.

1987
Uma mão tocou a outra, um anel dourado foi lançado à outra, cheio de promessas de uma vida que ninguém poderia imaginar. O público de 500 pessoas assistia apreensivo ao espetáculo de duas vidas se transformarem em uma apenas.

Hoje
A mesma boneca, agora sem cabelo, sem olhos, sem uma perna e sem um braço, conserva apenas seus ouvidos para a próxima alma cheia de sonhos e segredos de uma caminhada.

A Volta

Todo bom tigre à jaula volta.
Sabe da carne fresca que lhe é doada sem pedir nada em troca,
compartilha o banho sujo de seus parceiros.
Sabe da criatividade para passar o tempo,
do amor pra angariar mais visitas,
do sono pra descansar a mesma vista,
da pele pra ambicionar os ambiciosos.

Procura no próximo sua chance de mergulho interno,
com sal de praia que lhe adoce os sonhos,
com trovões de laços que prendam as lembranças,
com tintas frescas que lhe permitam pegadas.

Aqui fora, a vida está passando, contando os dias pra não ser mais vivida, entregando os pontos pra solidão. Se é de sofrimento que viveremos, então voltemos às nossas jaulas, como os tigres laranjas, sedentos por sangue, memória e pegadas.